NOITE TRANSFIGURADA
Criança adormecida, ó minha noite,
noite perfeita e embalada
folha a folha,
noite transfigurada,
ó noite mais pequena do que as fontes,
pura alucinação da madrugada
- chegaste,
nem eu sei de que horizontes.
Hoje vens ao meu encontro
nimbada de astros,
alta e despida
de soluços e lágrimas e gritos
- ó minha noite, namorada
de vagabundos e aflitos.
Chegaste, noite minha,
de pálpebras descidas;
leve no ar que respiramos
nítida no ângulo das esquinas
- ó noite mais pequena do que a morte:
nas mãos abertas onde me fechaste
ponho os meus versos e a própria sorte.
(in As Mãos e os Frutos, 1948)
(a quem o título do poema remeter incondicionalmente para a obra homónima de Schoenberg, sugiro a versão de sexteto, mais soturna e cristalina, simultaneamente, que a avassaladora versão para orquestra de cordas)
5 comentários:
Regressando eu a este teu espaço, não poderia deixar de registar o quanto de positivo foi a edição deste post: pelo poeta, em particular e pela cultura portuguesa, em geral. Quanto à introdução que fazes: não posso estar mais de acordo. O que actualmente predomina em termos de destaques enjoa, causa nauseas, é um apelo quase constante à mediania (para não dizer mediocridade). Que haja quem ousa ou insiste em continuar a fazer diferente. E tu, Jorge, tu fazes diferente. A prova está aqui.
Beijoka :)
Sandra
(http://www.void.weblog.com.pt)
Poeta e músico simbiose perfeita!
Jorge, obrigada pela referência ao NOcturno. E parabéns pela introdução, pela escolha do poema e associação à peça musical. Releio, emocionada (e escuto):
"Chegaste, noite minha/ (...)/ó noite mais pequena do que a morte"
Um beijo
Sabes bem que a manipulação do ser humano é só possível através da estupidificação mental e dormência espiritual. E o "ópio" é tão barato!!!
Gi
Deveria ter dito: e o "ópio" é legalizado. :)
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