quarta-feira, janeiro 12, 2005

...para agradar ao Diabo: segunda parte - a invocação silente

I


Oxalá o dia não nasça
um dia, e só ameace
espreitar por detrás de
uma manta de sombra.

Quem sabe o que eu
veria nessa velada dança
de um dia coberto de
pó areia cal ou cinza.

Centelhas de imaginário
se cobririam de ouro
ou de pólen, que é ouro
para brincos de mel.

Oxalá o coração pare
num silêncio teatral
num suspiro fingido
de surpresa ou ânsia.

Quem sabe o sabor
do erguido instante
acima do ruído vital
e da alvorada escura.

Um exército onírico
me derrubaria de mim
abaixo, como árvore
pelos ventos do norte.

Oxalá não sinta outro
inferno a nascer-me
atrás de cada instinto
nem dentro dos sons.

Quem sabe o que dirá
o Diabo, assim invocado
sem aviso nem piedade
por este nado-morto.

Palavras impetuosas, as
que bramará por esferas
abaixo, até estrangular
o meu atrevido gemido.

Sem comentários: