sexta-feira, janeiro 14, 2005

... para agradar ao Diabo: segunda parte - a invocação silente

II
Na esfera do reduto
final do grito iniciático
ergue-se uma sombra
uma dúvida, inquieta
paixão pelo derrubar
sem dó do preconceito
e da descrença vazia.

Desliza nos bicos
dos pés, dilacera o ar
com esgrimas de viuvez,
afila o sorriso negro
num gume sarcástico
de vitória antecipada.

Julga fortuna a desdita
do chamamento de sereia
em que a metamorfose
da culpa me transforma.

Assoma às ameias da
alma suplicante com
tréguas nas narinas e
golpes de olhar nos
lábios, trémulo, a baba
enunciado, eloquente,
a volúptia do sangue
prometido no grito
em fingida agonia
renascido, edificado.

Sabe que perdeu, que
perde sempre que aceita
o desvario de quem
o invoca –desocultamento
da sua impotência
face ao desejo de
servir a súplica do
desesperado. Perdeu
porque se vulnerabiliza
ao poder do sacerdote
profanador do mal.

“Acede ao meu temor
vem à pele ensanguentada
beber a tua vida, e aqui
exercerás o último resgate”,
proclamo, derrotado e
silenciosamente triunfante.

2 comentários:

blimunda disse...

este texto é fantástico, sabes ?

r.e. disse...

obrigado, blimunda. pela visita e pelo comentário. estes poemas, ainda são work in progress. falta pouco para acabar. depois, eu próprio tenho de reler o conjunto. volta sempre. um beijinho. Jorge