sexta-feira, janeiro 14, 2005

o amor em queda livre

Ela murmura ainda, como num rascunho, uma experiência de despedida adiada
antes de desligar - um “sabes...”, um “espera...”, um “tenho ainda tanta coisa para...”, um “foda-se...”.
O diâmetro de um círculo mede-se com os olhos fechados.
O olhar foge à perfeição e à completude. Para o número redondo
é preciso escutar o tempo entre duas interjeições banais. Medir é caber, primeiro,
e comparar com a ausência, depois. Ele suspira, como um olhar gélido de cansaço a descer por um rio sujo, suspira sem som, sem comunicação. Sem sentido. Sem um “diz...”, sem um “falamos depois...”, sem um “é tarde...”, sem um “foda-se...”.
O volume de uma esfera é medido pelo tacto, pela palma da mão
sobre a pele das nádegas, pela profundidade a que os dedos se perdem, pelo cheiro que transborda das narinas para fora. Caber, primeiro. Deixar de estar, depois.
Não comparar. Cair.
A palavra e o corpo. Geometria do indizível e do impalpável.


1 comentário:

blimunda disse...

lindo. lindo.