sexta-feira, janeiro 21, 2005

Diálogos Possíveis - I

Classes Laborais - Superiores e Subordinados



Sub. – Você é incompetente. Ponto final.
Sup. – Como? Atreve-se a repetir isso?
Sub. – E não reconhecer uma evidência como esta, a da sua incompetência, só pode revelar uma de três coisas...
Sup. – Veja lá o que está a dizer, ou terei de agir consigo de acordo com os direitos que me assistem...
Sub. – Típico... a Ignorância a puxar galões de autoridade para transformar a Mediocridade em Poder. Mas estava eu a dizer, se é que também não lhe falta, para além do resto, a boa educação de ouvir quando os outros falam, que não reconhecer uma evidência, e sendo esta a da própria incompetência, pode ser sinal de: uma estupidez simples de não ver o que é evidente, daquelas que não há nada a fazer senão lamentar que tenha calhado em alguém que infelizmente tenha alguma coisa a ver com a nossa vida; ou o não reconhecer a incompetência, que se subdivide por sua vez em duas hipóteses: ou não sabe que é incompetente, o que é gravíssimo em quem devia ser capaz de distinguir a competência da incompetência (coisa que não me parece ser de pedir muito a quem coordena, dirige, controla ou comanda); ou sabe que é incompetente e não o admite (demitindo-se, por exemplo), o que revela a má-fé que normalmente nunca é filha única nas mentes de integridade duvidosa.
Sup. – Você acaba de escrever oralmente a sua carta de demissão!
Sub. – Não comentando o absurdo do “escrever oralmente”, disparate que no meio dos do costume até passaria despercebido, lamento informá-lo de que tomar uma resolução de líder, como um despedimento, baseado na própria incompetência como justificação é um erro de meter dó e bradar aos céus.


(E brademos todos aos céus, ou pelo menos oremos para que qualquer semelhança com pessoas ou situações reais seja pelo menos, não podendo ser coincidência fruto da ficção, longínqua do nosso quotidiano)

5 comentários:

Anónimo disse...

Diálogos possíveis efectivamente ilustrativos do que pode ser o absurdo da nossa "normal" realidade quotidiana.
Será que devo esperar dos próximos diálogos um acentuar desse mesmo absurdo? Será que devo estar preparada para um "back" resultante de um confronto com situações (faladas) demonstrativas da nossa "anormalidade", pouca racionalidade, pouca inteligência, imenso desconcertismo, etc?
A ver vamos... ;)

Beijo grande :)

Sandra
(http://www.void.weblog.com.pt)

lu disse...

I Sistematicamente
Lufa.lufa de ar
bafejado, exilado
Inconsequência
Distância

O mar está saturado

II Sorri o cadáver enregelado
...

(20/01/2005 - To be continued)

r.e. disse...

não sei, Sandra, que diálogos possíveis poderão aqui ser depositados no futuro. quando escrevo alguma coisa que se venha a constituir como um ciclo ou conjunto, tenho uma ideia anterior sobre isso. neste caso, apenas o I do título me deixa em aberto a possibilidade intuitiva de eventuais sucedâneos deste texto. Este diálogo é, em mim, fechado. delimitado pelos pressupostos que o abrem e o terminam. obrigado pela expectativa. beijo. J

Lu :))
"sorri o cadáver enregelado"... há quando tempo não nos vemos mesmo? ;) aguardo, não sem curiosidade, que mais pode fazer, para além de sorrir, o teu enregelado defunto :) (fora de brincadeiras, é bom saber-te a escrever de novo). obrigado pela visita. volta sempre. J.

Anónimo disse...

Quisera fosse apenas fruto de ficção e as coincidências, nos dias de hoje, são em demasia.
A ignorância puxa com frequência dos seus galões de autoridade, numa afirmação gratuita de poder para lançar no abismo da nulabilidade e mutilação intelectual aqueles que, pela força das circunstâncias, a ela se submetem.
Quer queiramos, quer não, o poder está nas mãos do dinheiro e não pode haver evolução espiritual no homem enquanto não renunciar sistemáticamente a qualquer dependência do "bom e vil metal", enquanto não reconhecer a distância abismal que separa as riquezas do corpo dos tesouros do espírito. E, enquanto amar esse "barro" e temer tudo aquilo que dele não é feito, o homem permanecerá nesse lamacento estado de inferioridade mental.
Fruto de ficção é sim enfrentar de cabeça erguida esse "Cabo Bojador", sem temer as consequências desse acto de bravura.
Mais são aqueles que a tudo abrem a boca, abanando pateticamente a cabeça numa reverência, - sim... sim...
É mais fácil dormir eternamente do que ter a coragem de dizer "Não", no momento único em que a consciência se decide a dar o grande salto, a denunciar a sua superioridade.
É terrível recuar. É mais trágico ainda adormecer à beira do abismo, mas, apesar do velho ditado "nem só de pão vive o homem", a verdade é que o homem, como animal que é, necessita de pão para viver.
E olha que a tendência é para piorar.
Não é possível combater o egoismo na sua fortaleza mais resistente... não é possível arrancar, uma a uma, as suas raízes mais profundas... logo, não é possível criar novas tábuas de valores para que o homem possa construir a grande ponte que lhe permita passar das regiões obscuras da limitação instintiva para os alvores da consciência e atingir a subtilidade dos estados superiores onde a luz nasce e se transforma em inteligência.
Gi

Anónimo disse...

Jorge:
não me estava a referir à continuação deste diálogo, em concreto. pensei na altura, e penso, na apresentação de um outro conjunto de situações suficientemente demonstrativas da "anormalidade" em que é possível vivermos, no âmbito de uma normalidade por nós próprios definidas.

Jokas,

Sandra
(http://www.void.weblog.com.pt)