quarta-feira, setembro 28, 2005

11

é um espaço apenas
simples ao olhar confiante
entre as coisas
algumas metades de coisas
espaço que é também algo
entre espaços medidos pelo olhar
confiança de que o nada tenha partido para o sonho
e de entre as coisas apenas a distância possa
gritar
sim, a distância entre espaços
é uma outra
coisa.


Jun.13.MMV

domingo, setembro 25, 2005

madrugada inquieta

madrugada inquieta, 2005
pastel s/ papel canson mi-teintes 160grs preto

primeira tentativa de utilização de pastel seco.
não partilho o resultado da primeira experiência com pastel de óleo :)

r.e.

quarta-feira, setembro 21, 2005

IX

Lisboa parada à espera...
à minha espera, como
uma mãe que se tivesse
esquecido de um berço
num hipermercado e só
agora, trinta anos idos,
lembrasse os parabéns
que não me deu.

caminhos conhecidos
que hoje me confundem
e que fizeram o rol
dos mistérios com que
cresci...

Lisboa à espera do sol...
ninfa inquieta deitada
na relva, de dorso nu
à beira de um rio,
diferente do de lágrimas
que a tristeza faz agora
desaguar rosto abaixo
por razão nenhuma

23.05.03
(in o mundo e um pouco mais, 2003)

segunda-feira, setembro 12, 2005

mediocridade a carvão

Perder o sentido orientador da central mediania
da perfeição
derrubou do topo da memória os laivos
de passos sensatos que a intuição
planeara. Resta a desordem?
O lugar do futuro está sublinhado
a diamante. É um cubo perfeito. O centro é oco. Como guiar
a passada larga pela ilusória vacuidade do mundo?
Ultrapassar a nobre vileza da condição
oferecida a troco de vida
conduz a liberdade à clausura de se redefinir
a troco de quase nada. Que sobra?
Centros. Metades. Fulcros. Zénites.
Vácuos. Pontos insuspeitos.
Nós cegos.

Ago.29.MMV

sexta-feira, setembro 09, 2005

13. metáfora líquida

O branco repousa num milagre de leveza. Uma montanha, uma serra...
uma cordilheira de água plana sobre nada. Assenta num limite invisível, num traço...
numa superfície imaginada pela nossa incredulidade. Água, sobre uma fina fronteira de
textura e substância. Todas as configurações parecem ter abdicado de uma face da sua individualidade. Como alguém que decidisse ser plano ou côncavo ou amorfo num dos lados do seu corpo. As nuvens repousam sem memória da forma antiga. A lâmina que as separa do céu invisível é fatal - ou foi, no instante do embate. As almas abdicaram também de uma dimensão. Existência, sobre uma fina fronteira de vida e morte.
As almas assentam numa colina invertida - o abrigo do mundo ao contrário...
o véu que desvenda, o tecto que descobre, o refúgio que desampara. As águas elevadas
moldam-se a um destino anterior. Repousam num milagre, e movem-se numa osmose lenta
e solitária. A densidade das almas comprova-se p’la observância de similar paradigma. Isolamos o âmago do resto do nosso espírito, como por uma membrana amniótica criativa.

10.04.03
(in a densidade das almas, 2003)

segunda-feira, setembro 05, 2005

sem título

não tinham de ser lilases as flores,
podiam ter escolhido outra luz até.
importava apenas tornar lúgubre a
falta de fé com que me libertavam.

16.11.03
(in a língua secreta do egoísmo, 2003)

sexta-feira, setembro 02, 2005

12



plena noite quase luz
num ontem qualquer

pereces ao chamar do sol inquieto
fica o deleite de te eternizar –
lágrima estrela por cair

Jun.15.MMV