segunda-feira, julho 31, 2006

sem título

até uma fina camada de nada
sobre o tudo de alguma coisa
nos continua a afastar sempre
do sentido completo da nossa
despojada doutrina do amor

17.04.03
(in a incerta permanência da dúvida, 2003)

quarta-feira, julho 19, 2006

três vultos de angústia


(teatro)

personagens:

o Mestre (também narrador)
uma Lágrima
o Vento
a Palavra (apenas voz amplificada)
o Discípulo

1º ACTO – a ausência

Quadro I

(Com um fundo, aparentemente pintado de fresco, representando abstractamente uma mulher sentada a ler, com o rosto triste, a cena deve estar envolta num ambiente frio e intelectual. O som circundante, caso seja composto para a ocasião, deve acompanhar, no que a música permitir, a sensação de desconforto, mas não deve deixar de enobrecer esse estado. Caso não seja original, sugere-se Coptic Light de Morton Feldman, The Unanswered Question de Charles Ives, Vox Balanae de George Crumb, ou outra obra que realize desta forma a fusão das matérias rarefeitas com a intencionalidade poética.)

Cena 1

o Vento, vestido de azul, sem gravata, obviamente, proclama como se recitasse de cor poemas de juventude:

- Irmãos do Norte, tragam
Brisas frescas e brilhantes
Vontades de saber constantes
Que nem os tempos ...

indignado pela introdução inoportuna, o Mestre interrompe bruscamente a récita, gritando desde lá do fundo:

- Alto! Isto ainda não começou! Isto ainda não podia ter começado. E a ter começado, que forma ridícula de começar ...

O Vento, surpreendido mas rapidamente recomposto, ...

sexta-feira, julho 14, 2006

8

a inusitada languidez
dos teus braços suspensos
num acaso feliz
sobre o (vermelho) tecido
assusta pela cálida
semelhança com a
morte precoce de
um ramo partido

14.05.03
(in um barco de papel para Afrodite, 2003)

segunda-feira, julho 03, 2006

1º andamento

I

Era de noite mais noite que o universo imerso em
ti, como o orvalho luminoso no fulcro de prazer
de um trevo, no seio de quatro folhas corações de
fortuna, feitiço, luar imerso em ti, mais luar que
o brilho da paixão entre a coruja e a noite de quatro
madrugadas imersas no teu seio.


E depois continuou a névoa de tempo com o sol
submerso em mim, noite mais noite que a tua
morte.


Por entre os ramos invisíveis dos bosques por
desbravar sem coragem nem desejo, emerges sólida
como uma recordação que julgava presa no olvido
de tenazes ardentes, emerges mais sólida que o templo
de visões místicas que o tempo destruiu na minha
crença de papel, emerges sólida como a água bravia
da chuva mais chuva que a tempestade em mim quando
não és tempo nem azul nem ausência.

03.vii.MMVI

sábado, julho 01, 2006

XII

solidão –
impossibilidade de estender o braço e
(confiante, sofregamente)
tocar o tecto do nosso infinito

06.12.02
(in infinitas impossibilidades, 2002)