"Almas Cinzentas", de Philippe Claudel
Há lugares – espaço, tempo – onde a tristeza parece ter encontrado definitivamente o seu lar, o seu lugar.
Lírio-do-Vale, podias ter sido um corpo, uma vítima, apenas um corpo de menina, mais uma vítima, como o juiz Mierck fazia gosto em ressalvar nos gestos indiferentes e cruelmente frios, desumanos. Mas em épocas de morte anónima as mortes com nome inscrito doem numa dimensão diferente, à parte.
A tristeza apenas parece duvidar de ali pertencer, quando emigra para a nossa alma, também cinzenta no reflexo que a leitura nos imprime.
Philippe Claudel escreveu um livro triste - daquela tristeza bem intencionada que pretende acalentar sem iludir, daquela Tristeza com que Lysia cognominou o Procurador. Um livro sobre a herança dos instintos - uma herança pesada para quem deixa de ter outra vida que não essa para viver, outro destino que não aquele, traçado cedo demais. Lírio-do-Vale, Clélis de Vincey e Lysia Verhareine (para não acrescentar Clémence, que o próprio narrador hesita em colocar entre as restantes mortes), são os espelhos que devolvem à vida todo o cinzento que, já lá estando antes, se evidencia perante os vazios que estes nomes encerram com eles no túmulo. Mesmo assim, de todo o cinzento que habita o livro, as únicas cores vêm do passado relacionado com estas mulheres.
E não será sempre assim?
5 comentários:
Presumi que ias gostar.Ainda bem.
Beijo, Q
Às vezes as memórias da infância tb nos trazem algumas cores. uma das tuas está lá exposta (e aconchegada). bjs.
Despertaste em mim a vontade de o ler.
Abraço
das coisas que li até agora quase sempre me ficou uma frase..
desta vez:
«as únicas cores vêm do passado...»
quis lêr a crónica da tua viagem
Também escreves em dias de aniversário??
Bem.. o homem não para..
;)
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