domingo, julho 03, 2005

reflexo / dor / fluxo

Infirma-se a suspeita da unicidade. É um facto.
Mas porquê? Penetrar no real não devia ser simétrico a sair dele? Os gestos
não são contidos em dimensões paralelas?
(oblíquas nunca, porque a unidade não saberia como se multiplicar – assim,
pode o som ser ritmo exponenciado, e a luz
movimento invisível).
Magoam as ilusões mais que as desilusões. Embatemos impávidos contra a verdade mas sofremos por saber inquestionavelmente que é neblina sempre o que dizemos céu limpo.
Que perpassa enfim, por entre os dedos da alma, se nos atrevemos a escorrer raiva para fora do tempo, para dentro de nós? Que sabor tem o rio da desesperança? Não é amargo, como o lugar-comum apregoa. Não é doce, padre, não é doce.
Somos múltiplos sem desejo de tal mistério. Somos deliciosamente espectrais.

Jun.13.MMV
(in a geometria da inexistência)

3 comentários:

musalia disse...

hoje, este teu texto/poema tocou-me especialmente.
tens razão, não é a verdade que magoa, mas é sabermos que mascaramos de verdade o que sentimos ilusão.
beijos.

Rita disse...

Não sei se entendi o teu texto ou se também é disso mesmo que ele fala.

Chegar ao outro, como à realidade, apenas a sua sombra, não mais.

Estamos por isso sós, sem o estarmos, e julgamos tocar nas coisas, quando apenas as roçamos.

Mas continuamos, sempre, por ser essa a nossa natureza.

mjm disse...

se nos atrevemos a escorrer raiva para fora do tempo, para dentro de nós

Continuo a eleger esta imagem!
E, claro!, a sagacidade da inclusão desse interlocutor!...

Os dois versos finais?
A arder na fogueira da inquisição, pois então!?