Infirma-se a suspeita da unicidade. É um facto.
Mas porquê? Penetrar no real não devia ser simétrico a sair dele? Os gestos
não são contidos em dimensões paralelas?
(oblíquas nunca, porque a unidade não saberia como se multiplicar – assim,
pode o som ser ritmo exponenciado, e a luz
movimento invisível).
Magoam as ilusões mais que as desilusões. Embatemos impávidos contra a verdade mas sofremos por saber inquestionavelmente que é neblina sempre o que dizemos céu limpo.
Que perpassa enfim, por entre os dedos da alma, se nos atrevemos a escorrer raiva para fora do tempo, para dentro de nós? Que sabor tem o rio da desesperança? Não é amargo, como o lugar-comum apregoa. Não é doce, padre, não é doce.
Somos múltiplos sem desejo de tal mistério. Somos deliciosamente espectrais.
Jun.13.MMV
(in a geometria da inexistência)
3 comentários:
hoje, este teu texto/poema tocou-me especialmente.
tens razão, não é a verdade que magoa, mas é sabermos que mascaramos de verdade o que sentimos ilusão.
beijos.
Não sei se entendi o teu texto ou se também é disso mesmo que ele fala.
Chegar ao outro, como à realidade, apenas a sua sombra, não mais.
Estamos por isso sós, sem o estarmos, e julgamos tocar nas coisas, quando apenas as roçamos.
Mas continuamos, sempre, por ser essa a nossa natureza.
se nos atrevemos a escorrer raiva para fora do tempo, para dentro de nós
Continuo a eleger esta imagem!
E, claro!, a sagacidade da inclusão desse interlocutor!...
Os dois versos finais?
A arder na fogueira da inquisição, pois então!?
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