As águas retornam.
O princípio da nostalgia é o instante em que nos envergonhamos de ter elaborado
uma teoria da eternidade. Saudamo-nos com reserva, humildemente. Vai-se o tempo
de mãos dadas com a nossa ignorância, e fica ao nosso lado, como um demónio benevolente
e inútil, a consciência de tudo o que nos declara menos que quase nada. As águas infiltram-se
por cada fenda de luz. O princípio do desespero é o cintilante quebrar de todos os fragmentos
construídos pelos poetas para os inocentes. O tempo desequilibra-se e tenta puxar-nos também
para lá de todos os nossos limites espirituais. As águas param, o milagre da palavra...
As águas retornam.
O limbo da condição moderna destaca-se a pontilhado da nossa imagem de colagens. Pedaço a pedaço, vão-se esfumando os restos de cola entre cada espelho. A ironia isola-nos como pode
da verdadeira esfera que nos envolve, e por onde escorrem as águas ideais.
10.02.03
(in a densidade das almas, 2003)
3 comentários:
Vim só para daixar um beijinho e desejar bom fim de semana e deizer que continuo a gostar de ler as suas coisas.
De uma alma densa
O princípio da nostalgia é o instante em que nos envergonhamos de ter elaborado
uma teoria da eternidade.
Fiquei parada nesta frase. Maldição!!!
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