sexta-feira, julho 29, 2005

(dia 31 de outubro, 2041)

III
... com a morte vê-se o silêncio ...
Agora, perto do rio, olho para trás como para um altar, ladeado por Queirós, santo que enamorado se enlaça num corpo nu ... bonito ... de ninfa ...
Lembro-me novamente dos pássaros que “silenciosos” me procuram e penso subir de novo ao seu encontro, apesar de a tarde anunciar não só o seu silêncio, mas também o meu cansaço. Subo. Caminho lentamente, para não chorar. Cumprimento, com um toque de volúpia, a ninfa nua que me olha discretamente. Perto da igreja, decido não olhar na sua direcção e sigo em frente. Ando mecanicamente, como quem não conhece por onde vai. Acho que se encontrasse uma porta aberta, uma porta qualquer, entraria, apenas para me sentir acompanhado pela solidão de um edifício desconhecido, e não por esta multidão que tão bem conheço e desprezo. É quase noite, finalmente.

3 comentários:

mjm disse...

Vício de me prender nos 'materiais', fixei-me no "silêncio". E apeteceu-me desorganizar a introdução: com o silêncio vê-se a morte.
Acho que se encontrasse uma porta aberta, uma porta qualquer, também entraria.

Estes "futuros" deixam-me sempre a pendular. Se fosses ninfa, enlaçava-te ;)

Rita disse...

Voltei de férias,recuperada, pronta para mais um ano (?) e com vontade de te ler.

Há abrigos discretos que apenas nos escondem de nós mesmos.

E o direito a descansar, mesmo que isso queira dizer, noutra linguagem, fugir.

Levito agora, neste estado de ser, e gostava de adormecer ou de sonhar ao som da voz de uma musa encantada.

Encantada. Digo: encantada. Voar para lá do corpo e de todas as memórias, ser ninguém.

Até uma manhã, até amanhã.

Azul disse...

Muito bom, sem mais comentários. Um beijo para ti. Azul.

(Gostei fancamente deste teu texto).