quarta-feira, julho 06, 2005

III



a morte não existe senão no capítulo infindo da nossa angústia
a morte não existe senão no parágrafo visionário da capacidade de sonhar

a morte não é
a morte não se diz morte quando se nomeia
a morte não se nomeia quando se pensa
a morte não se pensa no momento em que existe

(porque a morte não existe...)

mas apenas naquele em que se impõe como metáfora

a morte é a nossa necessidade dela
a morte é a devolução do que lhe demos inconscientemente
(ao longo de uma noite de intensa solidão criativa
ou de uma vida de imenso vazio colorida)


27.10.02
(in infinitas impossibilidades, 2002)

4 comentários:

musalia disse...

e dessa solidão criativa retiramos à morte o sonho que suponhamos extinto...
beijos.

soledade disse...

"A morte não é" - penso o mesmo. Belo poema, Jorge, desfiando o absurdo de querer dizer o que o Eu nunca poderá conceber ou experienciar.
Beijo

Anónimo disse...

I don't know what death is.
I don't know what life is.
But I think they must be two aspects of the same reality.
But if I think, am I alive or dead?
--Eddy

mjm disse...

(Ficou a apetecer-me deixar-te aqui segmentos, não necessariamente coincidentes, mas suficientemente conexos)

renomear

quando as mãos não tocam
chamam-se fim de braço

quando a um braço se encosta um corpo
chama-se a esse braço cadeira

quando uma asa de pássaro não escreve nos lábios sorriso
boca é uma parte do rosto que se chama boca

de pouco serve a poesia que se explica
porque a poesia não serve; renomeia

observe-se se o falador
se cala ou se fala a dor de outra maneira

(24.jan.2005)