quarta-feira, fevereiro 23, 2005

sem título

nunca ansiei pela resposta ao que
não sabia porque não sei o que
ficaria colorido ou a preto
ou a branco depois

a lua passaria a vestir mais
cetim vermelho?

perguntar é respirar o sal
e o lume pelos poros que
a juventude abre e limpa

the answered question deixaria
de ter quatro flautas, soaria
somente o clarim da morte

08.05.03
(in a incerta permanência da dúvida, 2003)



[nota: "the unanswered question" é uma obra de Charles Ives para trompete (fora de palco), quatro flautas, e orquestra de cordas]

6 comentários:

Unknown disse...

olá R.E.,
há uns dias que não tenho tempo para "te" ler :(

Quando se tiver a resposta, busca-se uma nova pergunta...

Rita disse...

Sempre procurei. Respostas. Mesmo aquelas que não podiam ser dadas.

E gritei. Exigindo. E sofri. Quando as tive. E também quando não as tive. E corri. Até cair de exaustão.

Socorro, quero respirar!

Hoje já não procuro, encontro. E quando não encontro também não faz mal.

Sou muito mais feliz!

Anónimo disse...

Anseio apenas e sem pressa
pela paz e serenidade de quem viveu plenamente
para que a morte chegue como
“um gesto leve e tranquilamente belo”...

Um beijo.
Lua (...branca.)

Amélia disse...

Muito bom,amigo.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Associações de leitor: (memória)"não queira saber porquê. certas coisas têm de acontecer. é claro que pode fazer psicanálise durante 5 ou 10 anos. mas era melhor aceitar. e continuar. e um dia, se calhar, a resposta aparece."
Impressão de leitora: gosto da lua vestida de cetim vermelho e das 4 flautas. como dizia o Rimbaud, a poesia é o encontro do improvável.

soledade disse...

Gosto do que leio aqui, gosto dos teus poemas e do que me provocam - como este que defende "unansered questions", como quem deseja manter precários (e subtis)estados de tensão em equilíbrio. Belo, Jorge!