quinta-feira, fevereiro 03, 2005

I



o mundo está ali
adormeceu
dorme
não acordará

chego-lhe ao rosto
de sal
de pedra
um dedo
tímido e ousado
um afago
ora uma palavra amarga
ou um sopro inútil agora

lamento
não ter derrubado
a tempo o silêncio

tardo em aceitar a hora e
hesito em criar uma ilusão
de lençóis de flanela
num excesso de primavera

não encontro para mim
a oração que me redima
desta invisibilidade construída

dou mais um passo atrás
o mundo parece mais pequeno
e mais pequena a tristeza
de assim o perder

15.05.03

(in o mundo e um pouco mais)


10 comentários:

soledade disse...

Jorge, gosto de poemas que dizem silenciosamente das emoções tristes, da desesperança, de impossibilidades. E fico com os olhos presos na última estrofe: o culminar de uma gradação, o fecho perfeito do poema. Parabéns! E um beijo

Anónimo disse...

o mundo esta para ali...
aqui ... depois do aqui...
e para lá...
quem sabe um dia alguem
o ira visitar...

Beijinho grande, Jorge e bom fim de semana
Sónia
www.lbutterfly.blogs.sapo.pt

hfm disse...

As ideias escorrendo sentidos e acompanhando a música deste belo poema! Gostei muito.

Amélia disse...

Gosto muito deste poema.Não digo gostei, digo gosto.


(Jorge: já tem livros publicados? Ou estes destinam-se a futura pubicação?)

A. Narciso disse...

Muito bom o Poema Jorge. Frases curtas e fortes combinadas com mestria. O livro já se encontra publicado? Se sim, agradeço mais dados para lhe poder dar uma vista de olhos.
Abraço e bom fds

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

"dou mais um passo atrás /o mundo parece-me mais pequeno". novo ângulo que me permite finalmente alcança-lo por inteiro. maior a tristeza de assim o perder. tem o tamanho do colo que lhe poderia dar.

r.e. disse...

obrigado a todos pelos vossos comentários. é muito gratificante receber-vos aqui, e sentir que é para vós tão agradável aqui estar quanto a mim tem sido calcorrear os vossos trilhos, os vossos lugares. obrigado. J.

Rita disse...

Também eu durmo ou quero dormir aqui
agarrada a este poema
procuro os lençóis de flanela
porque está frio
e a primavera tarda em voltar.

mjm disse...

"O longe
ao perto
fica tão pequeno"
(disse ela)
"lamento
não ter derrubado
a tempo o silêncio"
(disse ele)

Anónimo disse...

o mundo dorme. mas o mal está sempre desperto. mais uma vez, lindo poema:) (marília - livejournal)