domingo, fevereiro 13, 2005

3. sob um céu serial

Posted by Hello

lua errante



Apago os faróis. Projecto-me lá atrás, onde deixei de existir quando as estrelas me pegaram
ao colo. Chamaram por mim num assobio silente. Acenou-lhes a minha inglória imprudência.
A cada gesto corresponde um desejo. Ou são os sonhos que se desfazem em
perpétuos adiamentos do prazer? Apago os faróis. Respondo ao afago das estrelas
imprudentes. Penso-as em traços e figuras. Tento gritar-lhes que as conheço pelos nomes
mas não me recordo de nenhum. Espaçam-se a intervalos imaginários. São a revelação
da nossa nascença. Do nosso desamparo. Rogo-lhes que se apaguem uma a uma. E me deixem soprar a última. Uma, duas, doze. E de novo duas, três, onze. E tudo por milhões imaginários multiplicado e transposto. Olho o fantasma que deixei lá atrás quando fechei os olhos nos olhos fechados das estrelas. Num assobio silente deslizo por este céu invertido,
de alcatrão. Fecho os olhos, para acender os faróis. E evito o infinito que me condena lá do
alto. E conto mentalmente uma duas dez e outra vez cinco, nove...

10.01.03
(in a densidade das almas, 2003)

5 comentários:

blimunda disse...

tás a ver a prosa do observatório do julio cortázar? apetece-me dizer * chegar ao infinito, ao lugar do homem na hora da sua verdadeira revolução de dentro para fora e de fora para dentro... * é sempre lindo vir aqui. ver as estrelas debaixo do teu céu. e sentir que te sentes tão desamparado quanto eu. o que faz dois. já não estamos tão sós... beijo

Amélia disse...

gostei de ler a tua prosa poética, amigo.

Anónimo disse...

Revelação ao apagar das luzes...

Beijinho grande
Sónia
www.lbutterfly.blogs.sapo.pt

mjm disse...

Gostei do paralelismo dos universos, num jogo de espelhos e correspondências. No meio, a criatura que nomeia mas não recorda... "E conto mentalmente uma duas dez e outra vez cinco, nove..." / "E evito o infinito que me condena lá do
alto." E leio ao contrário.

Anónimo disse...

If you let the stars hold you tight in their arms... If you let them caress you until you fell asleep, they would, certainly, wrap your soul in their silvery brightness and drench it with their soothing quietness.
It's always a pleasure for me to come here