segunda-feira, junho 20, 2005

incognoscibilidade (talvez dois dias depois)

- Foda-se! A sério?
- Sim. Já te podiam ter dito antes. Mas também eu quis ter a certeza, por isso...
- Tanta coisa, para...
- Sim. É fodido. Alguém não aguentou a pressão.
- Há alguma investigação a decorrer já?
- Mais ou menos. É mais uma contra-investigação.
- Hmm... Como assim?
- O Luís confessou.
- Confessou o quê, caralho?
- Que a matou. Diz que sente ainda o cheiro do sangue. Passou-se!
- E tu, não dizes nada?
- Eu não posso fazer quase nada. Sou o único que podia tentar dizer que acredita que ele não a matou. Mas nem sequer posso aparecer, quanto mais fazer com que acreditem em mim. Mandei um mail ao tipo que está à frente da coisa. Relatei-lhe os telefonemas. Mas o Luís não desmente o que já disse. E há montes de referências à deambulação pela cidade, como em transe, já depois da hora em que conseguiram situar o crime.
- Que foda!
- É que eu até percebo. Um gajo tanto sonha com uma merda, que se isso acontece mesmo um tipo perde a noção se teria simplesmente sonhado.
- Bom... mais cedo ou mais tarde o Luís embrulhava-se todo. Aquela cena só ia durar até um deles quebrar. De qualquer forma, a coisa ia sempre virá-lo do avesso.
- É capaz de até ser melhor assim. Quer dizer... a nível global. Ele não deve aguentar muito mais que este mês, se eu bem o conheço. Por isso, a coisa salda-se com dois mortos só. Só que esta brincadeira ainda vai a meio... se...
- Que merda... Também quem a despachou podia ter feito a cena mais completa - um bilhete, uma história qualquer que arrumasse o caso sem confusões. Tudo feito à pressa...
- Pode ser que estejamos a falar afinal pela última vez, e nunca nos pudemos conhecer. Isso sim, sem dúvida que é um sinal positivo. As circunstâncias que nos fariam estar juntos no mesmo sítio seriam concerteza as que fariam um de nós estar de olhos bem fechados e o outro de olhos bem abertos.
- Podes crer. Que vida de merda!
- Vou desligar.
- Sim... eu tam...

2 comentários:

Azul disse...

Na me parece ... Liga-te e escreve de novo. Re-escreve, concentra-te, revela-te. Estás enganado. Não foi ele nem tu. Foi o diabo que a matou! Foda-se!
Beijo. Azul.

musalia disse...

morreu...simplesmente. estava a mais na história...
o Luís? quis ser ele a tocar-lhe pela última vez...

beijos.