terça-feira, junho 07, 2005

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sobre o pano, inquieta, deleita-se rubra
a cor do vinho, o cheiro como um músculo
pulsa nos sentidos mesclados de ironias – são
os olhos, sabias?, que lhe afagam o odor e o
travo a passado, passas do ano esquecido.

o tempo arredonda-se, como uma chama
imperturbável na macieza com que engana
o rio da angústia que as imagens alimentam
dentro da insónia – colheita de demónios
em forma de esperanças com sabor a fruta.

a líquida metamorfose de mim em néctar
fez-se na madrugada do dia que não houve.

aspiro a crescer dentro da terra, a respirar
o lume ritual, a beber o mar que me embala
a queda no redentor manto fúnebre de algas,
com as sereias homéricas a confirmar os sons
do crepitar da pele, da sede pútrida dos vermes.

escuto ainda o restolho num sussurro falso
natureza a implorar clemência à raiva que
contida ainda no peito ameaça queimar os
rios quebrar nuvens em pedaços coloridos
e fazer do último arco-íris cama de bordel.

Abr.01.MMV

10 comentários:

hfm disse...

Comentar? Prefiro fazer um pequeno destaque; só um entre tantos possíveis!

"a líquida metamorfose de mim em néctar
fez-se na madrugada do dia que não houve."

Leonor disse...

Olá Rudolfo. Reparei que já me linkaste. fá-lo-ei também logo,logo.

gostei de todo o poema como geralmente gosto do que escreves, mas gostei especilamente do último por referir o poema de Deus, o arcoíris.

abraço da leonor

A. Narciso disse...

Mais um poema de grande nivel. Parabens Jorge.
Abraço

musalia disse...

fundes-te na natureza. aromas quentes contrastam com a sede de frescura em que mergulhas. desejas a ardência da terra, em vertigem, como se quisesses arrancar as imagens que te assaltam na vigília.
e em tudo perpassa o tempo, inexorável tempo, entimento de perda no dia que não viveste...
beijos.

Rita disse...

Porque é que este poema me diz que sabes amar diferente!

Jinho.

Unknown disse...

nobres são aqueles que fazem voar as suas ideias.

Anónimo disse...

Por aqui passeando, assinalo a leitura da longa meditação que é este poema.

Anónimo disse...

Esqueléticas, as musas...

Menina Marota disse...

Um belo poema...
"...aspiro a crescer dentro da terra, a respirar
o lume ritual, a beber o mar que me embala..."

Gostei.

Bom fim de semana :-)

r.e. disse...

a vossa presença deixa, como o mar na rocha, o contorno subtil mas identitário deste espaço. Obrigado a todos. J.