sábado, junho 18, 2005

[des] {re} (cr) [tru] i (a) dor


inventei-me de novo,
crédulo, louco –
o sol, uma esférica convulsão de vermelhos,
e o ar impregnado de dúvidas.

dei-me outro nome,
troquei de olhar –
a rua, agora deserta, não me espera assim,
e procura por mim agitadamente.

reformulo a dúvida,
repenso tudo –
o mundo, ser vivo à beira da minha ausência,
arfante pelo medo de me perder.

25.01.04
(in horizontes de ouro, 2004)

5 comentários:

Rita disse...

O mundo não tem grande medo de nos perder.

Nós é que temos um enorme medo de perder o mundo, embora o possamos dizer ao contrário.

Fica mais bonito e nós mais importantes.

...

Fiquei a pensar sobre o teu comentário no meu blog a propósito da falácia do tempo (presente, passado, futuro).

É óbvio que tens razão, mas às vezes dou por mim a pensar no tempo assim, de forma linear.

Eu, que nem gosto de coisas lá muito lineares!

Herança cultural, seguramente.

É preciso estarmos atentos para percebermos o essencial das coisas.

Obrigada pela dica.

Jinho + Jinhinho + Jinhão

Leonor disse...

tens o dom de brincar com as palavras.
abraço da leonor

Sara Mota disse...

;*

musalia disse...

necessidade de mudarmos de identidade? na essência permanecemos iguais.

ou ânsia de mudarmos o real...mas o que é o real?...

beijos.

mjm disse...

Este título é um verdadeiro quebra-cabeças [destruidor/ recriador]?
Obriga-me ao percurso inverso: montar :)
--
Cada estrofe se subdivide, e divide o poema em dois grupos de 3.
Li assim:

inventei-me de novo,
crédulo, louco –
dei-me outro nome,
troquei de olhar –
reformulo a dúvida,
repenso tudo –

o sol, uma esférica convulsão de vermelhos,
e o ar impregnado de dúvidas.
a rua, agora deserta, não me espera assim,
e procura por mim agitadamente.
o mundo, ser vivo à beira da minha ausência,
arfante pelo medo de me perder.


. 2 tríades num díptico; espelhadas

--
Belo poema!
Kisses