não há poema que quebre o cristal sob o pensamento mas
apenas poesia onde a razão se abre voluntariamente ao olhar turvo do delírio
e há quem saiba disso
do lado de cá da lucidez e não saiba dizer
o que vê sem parecer ter-se fundido já
com o próprio reflexo
um sol a escorrer pela calçada recebe os passos afogueados
de alguém que foge tremendo da sua própria sombra
inunda-se acolá um recanto onde outro se afoga todos os dias
depois de saltar borda fora do titanic
o mundo é criado sete vezes antes do almoço e outras tantas
antes do medicamento da noite
o verde é ruivo para aquela mulher que se debruça quase nua
num parapeito gradeado
outro mundo outras pessoas
outra beleza outros medos
a morte é outro mito
a vida outro lugar
há poemas que aguardam que o peso da razão se disperse pelo
azul todo para nascerem sob os pensamentos do outro lado do cristal
há almas que cantam já esses versos
aguardo-te
leio-te ternamente
jan.25.MMVI
3 comentários:
Que bom ler-te! tenho saudades...
A cada palavra, um novo cheiro, a cada letra, um rascunho de lágrimas e de brilho no olhar.
Dizer-te "continua" não é nada.
Gostei muito.
Preferia que me "visses"... bonitas palavras.
e há quem saiba disso
do lado de cá da lucidez e não saiba dizer
o que vê sem parecer ter-se fundido já
com o próprio reflexo
e há quem saiba disso
e há quem saiba disso
e há quem
e há disso
quem saiba?
isso
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