domingo, março 26, 2006

xxix

vem o vento derrubar a verdade suspensa nas caixas
de cartão duro esquecidas neste hangar vazio. és o gesto que anula a distância
entre as folhas de papel de todos os diários do mundo.
o próprio restolhar das ideias que passeiam pelos dias como
pólen. não há horas tristes dentro das caixas vazias.
somente pó. memórias das coisas que te preocuparam, que te dilaceraram
a alma incauta. as caixas são fantasmas. imensamente pesadas
de tanto nada levarem dentro.

derrubar a verdade suspensa revela-se redundante –
uma lucidez lábil caiu já no passado ou no futuro.

jan.25.MMVI

5 comentários:

hfm disse...

Podia ler só isto

"és o gesto que anula a distância
entre as folhas de papel de todos os diários do mundo."

e já tinha ganho a manhã.

Rita disse...

Nem sempre é fácil deixar o passado, pois que somos hoje, também, aquilo que fomos antes.

E se é certo que nem sempre nos foi possível escolher e que talvez agora o possamos fazer, a negá-lo estão os nossos gestos, maquinalmente repetidos, como quem abre sempre a porta, mesmo quando já ninguém toca à campaínha.

E questionamo-nos e julgamos ter momentos de lucidez - inutilmente.

Nunca nos apartaremos de quem fomos.

Somos, pois, fantasmas de nós mesmos.

isabel mendes ferreira disse...

esta verdade é muito sua......mt especial.....mt bem "aberta"-----como sempre. aliás.


beijo.

Rosario Andrade disse...

Bom dia!
... o pulsar triste e insidioso da ausencia, no rosto de uma Primavera que tarda em se-lo. Na sofreguidao das horas mortas, no desejo que se escreve e se oferece em ramalhete... e os olhos que nao veem e nao choram.
Bjico

Nina Delfim disse...

Há um fundo falso sobre a verdade no qual nos ocultamos de nós mesmos. Se bem observarmos a "caixa" veremos que ela abriga em segredo uma inconsciente vontade de nos preservarmos belos.
O que nos pesa são os nossos conceitos sobre as mais incompreensíveis formas de sentir.
Beijos