quinta-feira, fevereiro 16, 2006

xv

e foste lume e verde e jasmim e não sabes ainda o infinito que és. a tua alma foi rugido. habita-te agora o eco interminável como abismo que se esgota num sussurro de gigante. incendeiam-se em ti centenas de vidas pensadas por deuses de brincar, e de cada uma só sabes o nome que pronunciam quando se despedem. despedem-se de ti, do albergue anónimo que és para as existências translúcidas que pensavas tuas.

não foste amor nem farol nem eternidade. nenhum deus de vidro te emprestou a sua condição senão em gestos de irónica maldade e de desumanas ilusões. vício. impureza da cor ígnea das paixões.

foste o que desejaste quando te julgavas errante nos desígnios. foste o teu destino antes de o conseguires reconhecer. foste maior do que sonhaste e insignificante aos olhos da tua própria razão. soubeste o valor do belo antes de desistires de o encontrar em ti. desististe depois. apagaste os vestígios da inércia com delírios de omnipresença e venceste a incredulidade com gestos de desesperada fúria e ambição.

foste querubim e palma e penumbra e sabor e sabes somente que nada disso te definiu no verso das tuas páginas, no dicionário das tuas almas.

não foste gramático das tuas paixões, não foste analista dos vocábulos da tua expressão, não mediste os teus impulsos finitos e inconsequentes. quer dizer, mediste. mas não equacionaste os teus valores, nem os comparaste com o eterno nem fizeste sorrir a lua.

foste reflexo e angústia e ventre e arcada de violoncelo e fizeste ressoar ecos que não compreendes e fizeste tremer o chão de países longínquos e o próprio sol te negou irmandade impiedosamente.
e tudo o teu coração fez dissipar-se por um espaço inóspito

dez.21.MMV

5 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

assim sim....vale a pena vir aqui. e ver e ler e sentir....um enorme talento não forjado na terrivel vulgaridade que por aí anda....

(meu deus...como é bem escrito este "texto")


mt. obrigado.

bjo.

Rita disse...

Não vou, vou, mais uma vez referir a forma soberba como escreves.

Ao pé de ti, tudo o que escrevo parece um mau rascunho.

Tão pouco é isso que importa, agora...

Foste e és farol, luz, amor, som, sabor e eternidade e perder-te ser-me-ia terrível.

Foste e és existência translúcida, límpida e bela existência translúcida, e o eco que fazes em mim, como o eco que eu faço em ti,
dir-te-á sempre o meu nome.

E todos os cheiros, flores, terra, sonhos, abismos, risos e lágrimas estão guardados aqui, na palma da minha mão. Dar-te-os-ei quando o quiseres.

Bj.

*

Rita

Sara Mota disse...

Érre É, bom fim-de-semana :)*

isabel mendes ferreira disse...

bom dia......................................................azul.

isabel disse...

Lindo!
Não consigo dizer mais nada...

Beijinho