sábado, fevereiro 04, 2006

x

sumiu-se dentro de ontem o último desejo. minto outra vez. não era decididamente o último ou não se sumiu simplesmente ou não era desejo rigorosamente nenhum ou não foi dentro de qualquer tempo

ou não minto
(a mentira é uma esfera
convencida de que nasceu com um número finito de lados)

ou minto agora, que interessa

morreu algures o gesto suficiente. agora sei que não minto nem ao dizer que não minto
dividem-se as verdades como o mar esventrado p’la luz
e a esfera assume-se

desapareceu e não soube o que sentir porque não era plano o espelho nem estava dentro da esfera o olhar incrédulo. quando se perde
o que não se sabia nosso é como nascer depois da morte de quem se ama
é como deslocar o mundo para o seu lugar fora da veracidade do próprio deslocar e fazer do mundo o revestimento interior da mentira

e por dentro perdem-se sorrisos de alma apagada pela incandescência da verdade inútil. é sempre inútil a verdade, pergunto. talvez
supérflua fugaz fútil lábil talvez
incompleta como uma pétala vazia como céu antigo vítrea como a felicidade
talvez não seja inútil nem outra coisa qualquer

(somente um quadrado que delira
frequentemente com a sua superfície elíptica de espiral que o embriaga
de incertezas)


morreu dentro de algures sumiu-se ontem o último desejo suficiente algures o último gesto morreu dentro do ontem suficiente sumiu-se o desejo o último algures sumiu-se
dentro do desejo suficiente o gesto morreu
ontem

a que mentira a verdade se agarra para ficar de fora da esfera espelhada, brinco
porque rima imperfeitamente com minto mas é outra forma de salvar a verdade do quadrado insano

dez.13.MMV

5 comentários:

Paulo Ribeiro disse...

A verdade é aquilo que nós quisermos que ela seja. A mentira... A mentira é tudo o resto.

Anónimo disse...

Uma escrita solta e larga que me sabe bem

Anónimo disse...

mentes. ó, como mentes. dizes que vens de mãos vazias e quando as abres as mentiras caem todas ao chão. pudessem as tuas unhas ganhar asas e voar sobre as minhas costas. sim, cada palavra tua é um insecto de voo incerto. continua a mentir. até que o meu corpo seja cemitério. e nele fique sepultada a verdade.
alice

Rosario Andrade disse...

...a verdade! também eu me debato nessa procura. Esta em nós? esta na realidade palpavel? Será um ente ontologico com cosmogonia concreta, ou apenas uma convencao?...

Bom fim de semana!
Abracicos!

isabel disse...

Que envolvência, a tua escrita enlaça-me, vicía-me.
Quero sempre ler a frase seguinte para ver o que desconstruiste, é um enleio de faz e desfaz.

Vício puro!