segunda-feira, agosto 22, 2005

é a alma um polígono frio e débil

é a alma um polígono frio e débil
– desfaz-se em pó azul escuro
quando um pingo de medo desliza
pelo declive polido de cada aresta
permeável à dor.

privada de um véu diáfano que
lhe perpetue a fragilidade, é cristal
mais puro que o desenho ingénuo
do mundo possível que deus desejaria
ter perspectivado.

se a luz a penetra ou a ocultam
sombreados de prata, reflecte
a condição póstuma com que
preencherá o espaço dos futuros
prenhes de morbidez.

quando de placidez a inundo,
deixa-se esventrar pelo corte oblíquo
do tédio e da palavra surda e morta,
num deambular íntimo sem peso
nem forma primordial.


25.11.03
(in a língua secreta do egoísmo, 2003)

2 comentários:

hfm disse...

Um final soberbo - nada débil mas que nos deixa um frio interior.

Anónimo disse...

saudades tantas de cá...
Beijinho grande
www.lbutterfly.blogs.sapo.pt