terça-feira, março 01, 2005

(24 de junho, 2028)

II
Ainda bem que nenhum vértice representa o fim, mas apenas uma mudança de direcção. Quando nos sentimos próximos do fim, não temos sequer a ilusão de caminhar para lá de vértice algum; ou seja, o horizonte plano e tranquilo da visão do fim acaba por ser mais perturbador que a sensação de viragem de rumo, mesmo para o desconhecido. Quantos ângulos tem a vida? Provavelmente não será a circunferência a forma mais perfeita, mas sim o triângulo (sem quaisquer conotações teológicas, por enquanto – estou só a tentar compreender as vantagens metafísicas de três vértices ...).
Enquanto penso nesta idiota construção geométrica da existência, medida em vértices de esperança assustadora, a escuridão que me envolve murmura ruídos de lado nenhum, barulhos ínfimos que só se ouviriam por um louco ou por mim, tal a minha concentrada imaginação. Cerca-me o vazio, eu sei, mas o vazio não é só silêncio.


(“As cousas que me cercam, silenciosas,
São almas, a chorar, que me procuram”
Teixeira de Pascoaes )

5 comentários:

Anónimo disse...

Ainda ... bem

Beijinho e boaª feira
www.lbutterfly.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

Neste momento como se sente?
Perto do vertice?
A vida é para ser vivida sem medos..Pequenos momentos de felicidade é a força para seguir em frente..Fuja da solidão envolva-se...um beijinho de uma amiga

hfm disse...

Há textos marcantes. Este é um deles.

musalia disse...

tem tantos ângulos a vida que perfazem um círculo. voltamos sempre ao início.
vazio pode ser no meio do maior ruído possível.
beijinhos, Jorge.

Rita disse...

E eu salto de vértice em vértice e patino no horizonte plano e tranquilo e durmo onde só se ouve o silêncio das estrelas.

E acordo dentro de um triângulo de luz, com a escuridão ao fundo, e imagino como será a vida além, na Terra, e parto para mais uma viagem, de vértice em vértice, sem saber a resposta...