I
Quando te esqueço
sofro da certeza impura
e danço quase quedo
num medo sólido e uno.
II
Danço num segredo
e guardo-me para ela –
a renúncia ao saber e
ao desassossego vão.
III
Sossego na ausência
dos teus braços de luz
isento da tributação da
alma antes penhorada.
IV
Um dia, sem tempo e
olhos nos olhos, infiel
à fé, pétrea a entrega,
a partir chamei chegar.
V
E porque ris, se não
estavas lá, oráculo ou
esfinge, e nem sabias
quem chegou partindo?
VI
Há um lugar visceral
dentro do teu nome
no qual habita inócua
a minha dúvida perdida
VII
Não é ainda triste
o aroma que a morte
exala, afinal, entre
um e outro suspiro teu.
VIII
Procuras, derradeira e
desesperada criação,
o coração das minhas
desapaixonadas trevas.
IX
Enfrentas o deserto
e a rocha, o oceano
pálido e o infindável
abismo do meu olhar.
X
Uma vela ao fundo,
um incenso por queimar,
talvez um cântico, hino
ao tempo? Aguarda.
XI
É mais bela a tua
solidão agora, espelho
- vislumbro o belo,
panegírico da liberdade.
XII
Imitas na tua queda
o outro declive, grave
destino sobre irmãos
na perdição, caídos, vis.
último punhal
Recuperas a noite
do teu nascimento
no silêncio que deixo
a embalar o teu sonho.
? - Abr.18.MMV
(in livro xiii, 2005)
Nota: como antes anunciado, este díptico para Deus que aqui termina faz o contraponto ao tríptico para o Diabo, que tinha aberto este volume intitulado livro xiii.
todas as partes foram editadas aqui, e podem ser lidas a partir dos arquivos.
7 comentários:
Não vou apenas comentar este post, porque fiquei paralisado a ler o teu blog, claro que não o li todo, porque vou deixar para outras alturas, porque isto não se trata de um blog mas antes uma biblioteca de poesias inéditas. A d o r e i! Voltarei mais vezes de certeza.
Bem haja
Beijos
http://babushka.blogs.sapo.pt/
Reli o tudo e o que dizer para além de que gosto muito das tuas palavras?
Não tenho eu arte de escrever para comentar.
Tenho de regressa também para ler o que me falta.
Que é muito bom eu sei.
:)
lembrei-me de Torga, a sua luta com a fé, com Deus. vida partilhada com esse Alguém que se nega, lado a lado, dois "teimosos" :)
beijinhos.
gostei mais uma vez muito
confesso que não gostei muito deste «díptico para Deus»... ou não o terei compreendido bem... por se afastar do estilo da poesia que li anteriormente, ou desde que conheço este blog - não coloco em causa a qualidade do que está escrito. mas talvez se fosse ainda mais trabalhado resultasse melhor. é, enfim, o meu ponto de vista.
obrigado pela presença, e pela forma como deixam que a vossa sensibilidade paire sobre tudo o que aqui se deixa escrito. r.e.
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