A lua contorna-te, como um golfinho em torno do navio, e
deixas-te desenhar pelo seu capricho impressionista. Concede-te
apenas o poder do contraste. Podes exibir a tua nudez cinzenta, ou esconder
o teu exuberante negrume. Podes imprimir-lhe a ilusão de movimento, se abrires
muito os braços. Podes lançar-nos numa busca pelo seu olhar, se te deixares embalar
pelo vento. A lua controla-te, leme da nossa mestria em te imaginar solta. Deitada sobre
o seu horizonte, dança contigo no colo, e adormeces com o nosso choro de embalar. São
diamantes que os nossos olhos te oferecem, enquanto te sorriem terna e maternalmente as estrelas, que te vestem de lantejoulas a pele. Adensas-te lá adiante, espraias-te lá atrás numa
duna escura de há instantes passados. A lua arrasta-te, pesada e triste. Queres voar e o
branco não te deixa. É o branco que se prendeu às coisas bonitas que te envolve agora
numa agonia, âncora da tua solidão.
10.01.03
(in a densidade das almas, 2003)
4 comentários:
belissimo desenrolar de sombras e contrastes, envoltos na magia da noite. a lua...sedutora, brinca connosco.
beijos.
Gosto de sombras. E de espelhos.
É sempre muito dificil comentar-se arte. Apresente-se da forma que se apresentar. Ou gostamos ou não.
E eu gostei.
Lua horizonte envolver
Cobrir com um manto, esconder a face,
fugir.
para trás do universo
para longe, longe
sozinha.
a lua
lu
Gostei muito do motivo poético.
E da densidade que provocou em mim.
(e nos restantes comentadores)
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