segunda-feira, janeiro 23, 2006

xiv


vibro em ânsia destituída de cor
vibro num pendular lento
moto perpetuo insensível à minha vontade
sou som e não me ouço
vibro como a terra morta
sou a própria percussão das almas
no solo arrefecido
mastigo desejos para entreter a espera
mais nada acontece senão
o meu vibrar estúpido

como o mar repele a paz interior para fora de si
e a deposita nos olhos emocionados de quem
ouve gaivotas e vê pescadores e cães
também eu exorto os meus sentimentos a saírem
do turbilhão que me vive
para os pousar onde uma flor os possa
metamorfosear em perfume ou uma mulher
os leve para dentro da memória da beleza

vibro
e arrasto no movimento
planícies desenhadas a
estacas e
cercas bois
a viver o
verde asas
que abraçam
o ar em volutas
surpreendentes
vibro e desperto a cada oscilação para um silêncio que julgava ter exalado já

dez.16.MMV

5 comentários:

hfm disse...

Gostei de ler.

Sara Mota disse...

adorei este "mastigo desejos para entreter a espera" lool

Jinho, R.E :)*

lu disse...

Vibro...espero! Que desespero, por vezes, esperar respostas, esperar certezas, esperar o que virá. Que desespero não saber o número de grãos de areia do extenso areal, ou o significado dos sinais que nos interpelam diariamente.
E porque a Vida é isso mesmo... podemos sempre ir ao teu blog e a outros... e embelezarmos o coração com palavras que fazem vibrar qualquer leitor.
Gostei muito.
Obrigada por aquilo que és!!
lu

da. disse...

...e depois..depois há o silêncio do silêncio..aquele que palpita..dentro do que em ti vibra...

mjm disse...

"mastigo desejos para entreter a espera"
.
| Mas há momentos, nunca o pensaste?, há momentos em que tudo se nos abisma até à fadiga. O desânimo sem fundo. A vertigem para lá de qualquer significação. Nós somos o artifício de nós. Mas é aí que construímos a legitimação de se existir. Somos duplos do que somos e por baixo da camada que nos torna plausíveis há uma outra realidade que revela o plausível em ficção. O que somos não é. O que somos é o que resta depois de tudo se dissipar. O falso de nós é que é verdadeiro. Ou ao contrário, não sei. |

Vergílio Ferreira, in 'Pensar'
.
[
Não renego a aclamação
Que vem pelos canais das veias.
Pois que se existe, é condição.
Se tapo a boca aos pensamentos
Se aos gestos procuro exactos
Não sonego ao coração
Alegria, dor, devoção.
Que só protejo a interactos
A lucidez camuflada
Pelo paliativo dos tactos.

]