por quanto tempo mais dormirás
quando o vento embater no escuro será
de dia como é dia a noite para o
reverso das pétalas das flores que fogem
do olhar da coruja artista pintora da
perspectiva aérea dos vultos dos telhados e
dos sonhos deitados fora pela ignorância
é banal a inquietude gratuita que
exibe vergonhosamente um preço falso
para fugir aos impostos que o tempo
cobra até aos menos aventureiros
e vulgar é o refúgio na confissão
da derrota, da desistência, da modesta
entrega nas mãos da dor inocente
quando tu morreres não será dia
nem poderei mentir mais sem
beber o tempo com a sabor a mofo
nem alterar o meu desejo de
morrer antes de ti para ti por ti
não será possível escapar à medíocre
vulgaridade da dor à paralisia
estereotipada da ausência da náusea
do nojo de tudo o que respirar
ainda em mim, de todo o pulsar
de todo o rugir marulhante do
sangue insensível e louco
quanto durará a minha vigília
os prédios parecem ter tanta gente
lá dentro, e nos passeios à volta,
a trabalhar, a foder, a criar, a fingir
uma vida dentro e fora dos prédios
que num segundo se podem tornar
tijolo só, pó compactado, destroços
num naufrágio fantasma, sem mais
mortes a anunciar que não a nossa
o teu sono é o meu respirar
noite em ti que aqui emerge luz
ao acordares o vento terá na voz
um nome novo para nós, e as
flores não irão cheirar a nada mais
para além do nome que já tinham
será ensurdecedor adormecer assim
com os gritos dos nomes de tudo o
que ainda existir sem ti
amo-te não rimará com mais
nada
e o poema adormece
nov.23.MMV
8 comentários:
A noite, as corujas... a coruja é um animal interessante (numa aldeia, numa noite de primavera, os ruidos, o vento, os bandidos que passam, o amante que foge e salta um muro, uma estrela cadente...)
Levemente saltei de palavra em palavra, imaginado, rindo aqui ou ali, fazendo um ar sério quando foi necessário, como que debicando pedaços da memória.
Abraço
Depois desta bela leitura aproveito para te desejar Boas Festas e o melhor para 2006.
andamos assim meios perdidos, por vezes... em que a noite parece mais e mais escura, em que as questões parecem ter infitas questões como respostas... e no fim, no fim tudo é vazio, talvez tudo levite em torno dos nossos olhos...
Partidas, desencontros, sonhos perdidos, e nem se sabe bem porquê.
E a dor de tudo isso, a gritar mais alto do que tudo e a esperança a fugir-nos pelos dedos, esperança do outro, esperança de nós.
Tristeza, solidão... e o tempo, o tempo que ajuda de recomeçar.
Bj, grande, muito grande.
ai que lindo que lindo
Lindo, como sempre.
Bom Natal e Feliz Ano Novo.
ama muito... hoje e sempre! FELIZ NATAL! :)
gostei do teu estilo.. continua a escrever!!
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