terça-feira, setembro 12, 2006

9. viagem ao antípoda do sentido

Num lado do cone, o vértice sem cor nem forma. Sem forma, apesar
de se confundir com um círculo imperfeito invisível. Mal desenhado como os dias e
as paredes dos cemitérios. Do outro, a base inútil.
Um cone feito de infinitos é como uma recta, mas as rectas têm cor.
Nos subúrbios da nossa capacidade de pensar, existe um tempo que não
se deixa manipular sem preço. Uma base inútil, porque não há cones que precisem
de tempo para se deixarem nele repousar. Um vértice é suficiente. Nem de cor
precisa.
Um cone tem um preço para se materializar em espaço. Numa dessas
esquinas sem rosto, percorre-se um labirinto infantil para chegar à condição
óbvia da nossa impotência estrutural.
Apesar de se confundir com um círculo imperfeito, o vértice não é inútil.

13.03.03
(in a densidade das almas, 2003)

1 comentário:

Rosario Andrade disse...

Querido Rudolfo,
...como a própria alma, etéreo, de consitência angelical e delicada, sem principio nem fim!...
Sempre um prazer ler-te.
Bjico ancho