domingo, setembro 17, 2006

1º andamento

II

Na fímbria de veludo do teu passado tens a
cor estampada da melancolia, nobreza que te
afasta do chão em que estou mergulhado há
duas eternidades e meia, sentimento nobre o
que serve de pretexto ao amor pelo eterno
sofrer em vão.

Amar a vacuidade do sentido desdobra em nós,
ontem, para sempre e agora, o véu multicolor
da dúvida e da ira, tanto para fora do limite
da língua que o expressa, o óculo mágico
da metamorfose, como para a profundeza da
angústia que o consome em golfadas de lucidez.

No caleidoscópio da incerteza vemos o que
não foi desenhado por deuses mas por espectros,
fantasmas de sangue mais negro que a noite
de sonho, mais quente que o sol apagado
num espectáculo silente e insano.

E regresso sempre ao veludo ancestral
desbotado numas cores e adulterado nos
tons da memória caprichosa, e brilham
os dias sombrios imaculados pela tristeza
e esfumam-se em tons cinza os beijos
redondos e os farrapos de êxtases
que guardavas em molduras de tempo
num museu que não chegou a abrir.

3 comentários:

hfm disse...

Gostei deste "caleidoscópio de incertezas".

isabel mendes ferreira disse...

andamento único:




a tua diferença!!!!!!!!!




beijo.

Rosario Andrade disse...

Querido Rudolfo,
... directamente para os textos meus favoritos escritos por ti. Muito, mas muito bom! Forte e aveludado, amplo e transcendente, cheio de significado(s).
bjico ancho!