domingo, outubro 09, 2005

XXII

envolto em cores de cipreste,
coberto pelo manto do silêncio
envergonhado
(- a mortalidade é o pior dos defeitos)
o coveiro acende o cigarro
e espanta olhares curiosos
com um cabecear amalucado

por dentro pensa no infinito,
pinta-o de cores brilhantes
falsificadas
(- nunca o preto foi verdadeiro)
e enterra corpos como farpas
na alma da terra humedecida
pelo suor de escaravelhos e larvas

08.06.03
(in o mundo e um pouco mais, 2003)

4 comentários:

Anónimo disse...

conto contigo ao pequeno almoço para falarmos destes e doutros assuntos :)

musalia disse...

a morte vista por quem lida com ela diariamente...e a visão poética, quase poética de quem nos 'planta' de forma tão segura e natural...

(não quero ser plantada, antes espalhar-me num campo de flores bravias)
beijo.

mjm disse...

Pois, a mim, apeteceu-me comentar o q senti, ao invés de analisar.
E senti aqui a vida de forma analógica; como se só na imaginação se pudesse de facto existir, e não no plano do real.
Estranho...

(- a mortalidade é o pior dos defeitos)
(- nunca o preto foi verdadeiro)

por dentro pensa no infinito(...)

hfm disse...

Gostei de ler. Muito.