um dia disseram-me
: vida,
só uma!
nesse dia disseram-me outras mentiras
mas eu nessas acreditei –
com vontade, como
se crê em tudo o que sabemos falso
acreditei (bah…) que os pássaros morriam
e tudo à minha volta denunciava
o seu canto submerso
nos recantos das coisas inúteis
(sob as toalhas que cobrem
as mesas ridículas, camilhas e
afins, sobretudo as de imitação
barata, e que nem molduras com
fotografias mal tiradas levam
em cima
(atrás dos livros
demasiado novos para esconder
a magia que o meu olhar
discreto lhes confere quando
os desejo folhear de novo,
beber
(entre os
…
… que os pássaros tinham morrido…
pássaros que nunca voaram,
nunca! mas vivem ainda no sonho
que o seu canto imortal inspira
esses pássaros que morriam
(de mim, em mim, para mim)
recolhiam no bico lágrimas
como orvalho das minhas
madrugadas (lembras-te
do seu sabor?
) – mentiras salgadas
disseram-me que o amor
morria como os pássaros
e eu acreditei, e em todo
o lado o amor se revelava
como um garoto a brincar
às escondidas, inocente
na sua crença pura de
invisibilidade total
(o amor também julga
esconder-se, bah…
mas todos os lugares são
templo e caverna onde
se refugia
todos os sons, mensageiros
da voz que acalenta
a ausência (até o rouco
murmúrio do mar, ou o
desesperado grito de
deus, me trazem a dor
de te escutar, outra mentira…
sobre as vidas da vida, entre
a vida, sob a pele viva
da vida, vidas sem mapa, sem
origem nem fim, de todas as
vidas a vida, sobre essas
não! Morram os pássaros ou
o amor, continuem a morrer
até que o meu coração
desista de acreditar
na verdade.
dez: 01, MMXI
5 comentários:
Eu queria cantar para dentro de alguém,
sentar-me junto de alguém e estar aí.
Eu queria embalar-te e cantar-te mansamente
e acompanhar-te ao despertares e ao adormeceres.
Queria ser o único na casa
a saber: a noite estava fria.
E queria escutar dentro e fora
de ti, do mundo, da floresta.
Os relógios chamam-se anunciando as horas
e vê-se o fundo do tempo.
E em baixo ainda passa um estranho
e acirra um cão desconhecido.
Depois regressa o silêncio. Os meus olhos,
muito abertos, pousaram em ti;
e prendem-te docemente e libertam-te
quando algo se move na escuridão.
- Rainer Maria Rilke
depois do seu poema e depois deste do rilke, só me resta deixar um beijo*
Gostei muito, senhor professor :)
Apenas - saudades.
aqui vou estando
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