III
eras a nuvem sob os castelos
de sombras e de palavras densas
que lia quando sonhava
a eternidade de cada lugar.
e eras a chuva que a desfazia
arremessando ameias e sílabas
para o abismo do passado,
para o negrume de qualquer vida
sem o horizonte ocultado
pelo teu vulto.
e eras o livro que se escrevia
com os silêncios nascidos
da chuva (
o mar cantava em polifonia
com outros silêncios
) e nessa escrita perdias-te
na hermenêutica da minha
presença.
eras o prado onde a chuva
dormia, onde cada gota
encontrava o meu olhar e
se tomava de sal.
e eras o refúgio de lágrimas
que não brotavam já
do mesmo céu.
e era belo o diálogo subtil
da chuva com os meus
mares, com os lagos onde
afoguei o lirismo, com os
charcos que mascaram as
rugas do meu tempo,
com os riachos por onde
descem sons e mortes –
mortes silentes e sons sem vida.
eras toda a água –
eras toda a água e
até no deserto
me esperas.
08.out.MMIX
sexta-feira, outubro 09, 2009
terça-feira, março 24, 2009
II
eras o mistério sem nome
a redenção de um delírio,
o universo de todo o peso
despido –
e eras vento colorido e breve.
e eras mais tu nesse tempo
imerso em imagens suspensas
do que em todas as horas
de vigília enganadora que
te arrastaram para o sonho
de antes, para o desejo de
agora, para o esquecimento
do futuro.
eras o lugar onde morri
antes de te esquecer e
onde decidiste guardar-me
para eternidades menos vis,
conservado no âmbar do
teu pensamento.
e eras a guardiã e o tesouro
porque a coisa amada
somos nós.
20.mar.MMIX
para azul
eras o mistério sem nome
a redenção de um delírio,
o universo de todo o peso
despido –
e eras vento colorido e breve.
e eras mais tu nesse tempo
imerso em imagens suspensas
do que em todas as horas
de vigília enganadora que
te arrastaram para o sonho
de antes, para o desejo de
agora, para o esquecimento
do futuro.
eras o lugar onde morri
antes de te esquecer e
onde decidiste guardar-me
para eternidades menos vis,
conservado no âmbar do
teu pensamento.
e eras a guardiã e o tesouro
porque a coisa amada
somos nós.
20.mar.MMIX
para azul
terça-feira, março 03, 2009
I
eras o vislumbre do vulto
imenso e antigo
que não iria chegar –
e eras a própria espera;
e eras mais bela nesse lugar
do teu silêncio do que
o tumulto apaixonado
que os pássaros sonhavam
cantar arrebatados quando
sobrevoavam os túmulos
anónimos dos meus amores.
e eras o fulgor dos lumes
crepusculares e pesados,
decalcados a sangue
sobre as infâncias todas
sobre as adolescências todas
sobre todas as vísceras do tempo –
e eras o esplendor desse lugar.
e eras o silêncio cavernoso
do coração inundado de resquícios
irreconhecíveis de amor –
parábola e hino, ao mesmo tempo,
à incessante melancolia sóbria
e líquida, pulsante no pensamento
atroz e voraz de cada êxtase
por esculpir.
03.mar.MMIX
eras o vislumbre do vulto
imenso e antigo
que não iria chegar –
e eras a própria espera;
e eras mais bela nesse lugar
do teu silêncio do que
o tumulto apaixonado
que os pássaros sonhavam
cantar arrebatados quando
sobrevoavam os túmulos
anónimos dos meus amores.
e eras o fulgor dos lumes
crepusculares e pesados,
decalcados a sangue
sobre as infâncias todas
sobre as adolescências todas
sobre todas as vísceras do tempo –
e eras o esplendor desse lugar.
e eras o silêncio cavernoso
do coração inundado de resquícios
irreconhecíveis de amor –
parábola e hino, ao mesmo tempo,
à incessante melancolia sóbria
e líquida, pulsante no pensamento
atroz e voraz de cada êxtase
por esculpir.
03.mar.MMIX