/primeira
senhora, em teu poder finito e aleatório confio
as minhas preces de ontem e de hoje.
entrego às tuas mãos lânguidas a seiva das
minhas lágrimas
para que nelas banhes o rosto e absorvas
a cor e o sal da minha interioridade.
senhora, em teu poder finito e imperfeito deposito
a esperança de uma luz – não tem de ser brilhante -
basta o calor da verdade e a frescura da paz
para desenhar a pastel um dia com outro tempo.
imploro o abraço das tuas pernas,
dos teus cabelos ondulantes,
dos teus fios de ouro suspensos das asas,
das tuas raízes profundas cravadas no mundo,
o abraço que faça de mim lugar fértil da tua curiosa misericórdia.
senhora, em teu poder finito e inconstante entrego humildemente
o rumo do meu sangue – todo
: do que corre nas veias
e
do que inunda os carris onde desfila inglório
o meu azul final.
vinte: 01, MMVIII