segunda-feira, janeiro 08, 2007

#17

por exemplo, o frio perguntava as horas e o coração não sabia o tempo, discurso cego e incontornável, por exemplo, o saber que não se sabe o tempo, pensava o coração, é a brecha por onde espreita outro pulsar, outro ritmo. por exemplo, o reflexo demorava-se e a forma ficava oca de exterior, absurdo já antigo, ser-se órfão do mundo. não! não tão poético – ser oco de exterior, estar sempre com o avesso de fora, não saber onde existirá alguma coisa, por exemplo, ou de que lado virá o sol amanhã. ah! amanhã e é já um vislumbre de intuição do frio ao perguntar as horas, lágrimas do tempo derramadas em vão. por exemplo, uma casa vazia, de tudo, de janela a janela só o sol que ali vive por minutos, como uma explosão que se extingue em silêncio, uma casa vazia de sentido. porquê uma casa então? gruta, ou nem tanto, memória tridimensional, por exemplo, ilha em negativo onde o mar ecoa com timbre pobre e seco. à noite as paredes perguntam ao frio quando é que o mundo volta, e o frio vem ter comigo, por exemplo, confiante na minha ignorância.

xii. 13.MMVI

6 comentários:

alice disse...

por exemplo a beleza deste lugar e tu seres nele *

hfm disse...

uma ilha em negativo onde me encontrei.

isabel mendes ferreira disse...

sim tu


ilha


mas


positiva.



impositiva.



Belíssimo.


beijo.

Anónimo disse...

Passei por aqui para deixar um Q.

F.

vida de vidro disse...

Verdadeiramente encantada pela descoberta desta ilha de escrita.
Beleza pura!

mjm disse...

esta tua plêiade de 'por exemplo's é soberba!
assim como os andamentos.

q bem me soube retornar...