sexta-feira, abril 15, 2005

díptico para Deus - harmonia celeste

II
Ufano na solidão
em que me defino
sem definhar ao
castigo que clamaste
no momento ímpar
da sóbria separação,
escorro angústia
ao invés de sal
pelas órbitas
insanas, irreais;
mas é contudo
alegria revolta
paz insatisfeita
que se esvai de mim
assim, neste fluir
escuro por que me
tentas a voltar.

Numa ilha sem ti
rodeado de ti só
alcanço o limite
o cume a franja
do sentido da tua
ausência incerta;
e mascaro de fome
o sabor a nada,
e digo sequioso
quando trago
voluptuosamente
afinal o néctar
o sangue esperma
teu e de todos os
corpos que aceitas.

O nome é então
o que resta do verbo
e o som do estertor
é tempestade que
ressoa já na minha
inexistência triunfal;
o poder é o nome
do som inexistente,
a dor do espírito
que não sente já
o peso da tua mão
a afagar-me sem dó.

2 comentários:

Maria Heli disse...

Gostei. Mais uma vez. Gostei.

mjm disse...

( harmonia??? )
Li, reli, e trili. Nem apelando ao meu hábito de desmontagem me reconciliei com a leitura primeira - doeu, e ainda dói. Enquanto se sente, não se disseca. Prometo que a este nada farei. Ao que senti, interrogar-me-ei sobre o porquê.

Kisses, r.e.