quinta-feira, julho 22, 2010

segundo livro de orações

/terceira


ao vento que foge do escuro
exorto a que te guie até
mim sob o luar negro


peço-lhe que afaste do teu
caminho sombras e vultos
para que não confundas o
choro da minha alma
com o mal que a noite exala


exorto o vento que foge de mim
a que traga o teu cheiro
o aroma beatífico do teu cabelo
que acaricia os ramos mais altos
do bosque e o tapete de musgo
onde durmo quando te espero


se chegares antes do sol
trava o seu raio até o meu
olhar nascer para acreditar
na noite alva que trazes
para dentro de mim


quero uma noite eternamente
branca trazida pelo teu beijo




treze: 03, MMX

segunda-feira, junho 21, 2010

segundo livro de orações

/segunda



sob o luar negro da tua
ausência choro em uníssono
com as corujas de olhar
em êxtase, quase místicas


sobre as pedras molhadas
de orvalho e frias pela
ausência demorada do sol
deambulo descalço e lento
como água que se cristaliza
sem quebrar a corrente -
lágrimas que secam pelo
teu rosto esfíngico abaixo


deambulo para ti à escuta
do restolhar que os teus
braços provocam nas nuvens
que te acolhem a alvura sombria


deambulo para ti alerta
ao vento que foge do escuro
e te anuncia em silêncio branco.



treze: 03, MMX

quarta-feira, abril 21, 2010

segundo livro de orações

/primeira



não vieste ao meu encontro
quando caí


não caminhaste sobre a terra
para segurar a minha sombra
e sorver a seiva da minha
tristeza e descrença


não consumiste no fogo do teu
amor o meu amor por ti


não trouxeste anjos nem pássaros
nem ouro nem sarças nem naus
nem auras nem pão nem néctar
nem corpo de filho nem filho dos corpos
nem luz (
nada trouxeste que eu precisasse
para me escutar melhor (talvez os
pássaros, pai, mas...)

nem luz...



mas sob o luar negro da tua
ausência deambulo para ti



oito: 03, MMX